Uma garota confusa, tentando se entender e entender ao mundo, confundindo o mundo todo.



quarta-feira, 8 de abril de 2015

Cor de rosa

Te transformei na mais doce poesia
você me fez de melodia

Habitei seu colo no balanço
No descanso

Mirei seu solo
melhorei minha rima
rimei sua sina

Dancei tua pele
calei tua rua
pintei sua aquarela
quebrei minha cela


E repousei
Donzela
No cor de rosa do seus
labios

quarta-feira, 25 de março de 2015

O mágico!

Munido de uma cartola na mão
o moço fazia magia
e olha só
até poesia

Os pés eram colados no chão
mas o noturno coração
ensaiava tango
nos anéis de Saturno

Era de uma grandeza sem limites
(mas que beleza!)
gostava mesmo era da pequeneza

Discorria sobre a pontuação do meu
Bom dia!
Escorria pelos meus dedos
os seus medos do meu achar
e corria para me alegrar dizendo:
Eu gosto tanto do seu
Como foi seu dia?

No fim do ato
o que tirou da cartola
não era argola, nem gato
Indolor, era só um fato:
Amor! 

Desapareça, moço.

Sem dor. Meu peito está sereno, tranqüilo e desafogado. A página estacionada na minha frente grita um socorro mudo e implora para que a tinta da minha caneta rasgue seu branco vorazmente. A página estacionada na minha frente quer se transformar.
Tenho escrito pouco, porque tudo o que escrevo, agora, é sobre o amor. Mas existe em mim uma estranha dificuldade de falar sobre o amor quando me sinto em paz, quando no meu peito toca a balada mais doce e suave de amor. Quando não fere, as palavras sobre ele têm personalidade de garota careta, de filme da Disney. 

Sem dor, sou apenas um enfermo necessitando de muletas para me locomover. Nada me provoca, me incita. A felicidade dessa minha página em branco estacionada de frente para mim, como de criticasse meu jeito, é a depressão, a dor, o não-sei-mais-o-que-fazer-da-minha-vida, o desespero sem fim. A felicidade dessa página é quando o amor me dói e me devolve, de sorriso na cara, a voracidade e selvageria de uma página inteira rasgada de tinta.

Sem dor, meu peito é o texto a lápis, com a segurança da borracha. Sem motivos para a melancolia, a página mais me encara e provoca do que eu o faço. A dor da minha página em branco, que estacionou de frente para o meu peito sorridente, é saber que meu coração está em paz.
Tenho escrito pouco porque tenho sentido muito.


No ultimo grito de socorro dessa página ouvi: “Desapareça, moço. Faz esse peito chorar.”

sábado, 24 de janeiro de 2015

Uma cena qualquer na minha memória



Os olhos eram claros como a cor das manhãs em que eu o via. Os ombros largos mostravam os fardos já carregados e revelavam os que ainda viriam. As mãos eram grosseiramente másculas e entre os dedos jazia um cigarro. Cada gesto parecia ser milimetricamente calculado; lentamente levantava o braço e guiava o cigarro até os lábios, uma tragada, duas, a fumaça escapa pelo canto da boca e finalmente, ainda como se estivesse em câmera lenta, os lábios se separam como dois amantes proibidos e uma fumaça densa se espalha pelo ar se misturando com o ambiente caótico, a música no fundo, as pessoas apressadas, os pensamentos e desejos que pairavam também ali, naquela imensidão minúscula. Os olhos se fecham e a cabeça é inclinada levemente para trás como quem se deixa voar nessa mistura.
O ciclo se repete. Um tragada, duas e a fumaça escapa pelo canto da boca. Os olhos fechados ainda escondem a imensidão de uma alma calejada. Distante de tudo o que ainda permanecia a sua volta e em seu interior, os lábios se separam outra vez e a fumaça, agora livre, desenha o ar e se mistura com as formas do seu rosto. Cada pequeno espaço desse corpo parece preenchido. Tragando a vida na calmaria de um segundo intenso e expirando a morte em fumaça espessa. 

O cigarro morre entre os dedos ainda vivos. Os olhos se abrem. Imensidão azul.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Dois rios, um (a)mar.



Você foi meu ponto de partida
naquela tarde sofrida em que o céu escureceu
porque você não apareceu.

Espero que saiba que
mesmo que em mim não caiba
ainda alimento esse sentimento
e peço em oração para ter seu coração

Não achei solução para esse meu gostar
Da sua insistência em ajudar
até o desconhecido que vem não sei de onde
e vai pra longe

E mesmo sendo alguém tão diferente
Espero não ficar doente quando vir
no seu rosto tão amado
um grande “não” estampado

Talvez a sua ida sustente
meu novo querer ardente
de ser dona da história
e deixar de sentar na poltrona.

Ainda desejo ser metade de você
e até consigo escutar
o seu bocejo

E mesmo sem acreditar
Agora existe remédio
para esse seu tédio
das coisas que eu almejo.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

2014.doc



2013; decidi começar pelo fim. Em 2013 escrevi uma carta sorrindo para a nova eu de 2014. Nova eu - não chega a ser hilário esse meu cinismo? Escrevi a carta porque apostei tudo em 2014, achei que seria meu ano. Sentia isso. Ok, alguém me mandou as vibrações erradas. Queria deixar meu muito obrigada a quem quis me sacanear assim me fazendo sentir o que não era verdade. Valeu mesmo.  Enfim, perdi a tal carta, mas me perdi também. Faz sentido.
É o ultimo dia do ano.
Eu ia escrever sobre dois mil e quatorze, mas acontece que: Nada. Olho para o papel e me esforço para tentar achar palavras que caibam, minimamente, no meu dois mil e quatorze. Nada! O nada é um grande filho da puta! Cabe tanta coisa em um simples nada que qualquer coisa, ainda que enorme, se torna pouco, ou melhor, nada. Um nada cheio de tudo. Olho para trás e vejo, em cada pequena vírgula desse meu ano, um nada cheio de tudo.
Acho que deveria ter feito uma lista... Nunca gostei de listas, nos limitam. A carta para dois mil e quatorze era, inicialmente, uma lista. Mas como eu poderia dizer das cores se fosse só uma lista, como a lista de compras pregada na minha geladeira? Ah, as cores... Na carta pedi para que em 2014 eu fosse colorida. Meu ano foi cheio de olheiras roxas (de noites mal dormidas) e sorrisos amarelos. Vale colorir assim?
É o ultimo dia do ano... Ainda?
Mudança. A primeira palavra que me vem à cabeça. Talvez por estarmos nessa época do ano... Por que insistimos em querer mudar nessa época? O ano novo sopra o vento da esperança nas nossas faces, bagunça o nossos cabelos e traz um suspiro de vida a quem já se desfalece a essa altura. Mudança. Ásperas mudanças.  Sorrio de canto porque mudar é triste. Mudar é escolher, abdicar, ponderar, repensar, abandonar, livrar-se. Mas como posso chorar diante da liberdade? Prefiro sorrir.  Triste felicidade (dei de ombros - Meu Deus, como meus ombros pesam!). Sua expectativa esta me causando dores nas costas. Por que as depositou tão pesadamente em mim? Não posso bater as asas que você me acusou de ter assim. Fada? Não, passarinho.  Mas voltei a acreditar nelas, nas madrinhas em especial. E nos príncipes azuis da meia noite em cavalos bran...Hum... Negros! E nesses seus olhos cor de tempestade e formato de calmaria.
Dois mil e quatorze, existem exatamente dois mil e quatorze motivos para você ser o ano que eu não esperei que você fosse. Nesse sem-fim de motivos, esbarro: infinitas versões de uma vida que eu não vivi. Estaciono. O nada me pertence outra vez. Afaga-me o peito e jura-me amor eterno. Quem disse que o nada não pode ser companhia? Estou cheia de nada ou meu nada está cheio de tudo? O nada me sorri uma vez por mês, pelo menos, e escova meus cabelos em dezembro. Acaricia-me em dezembro. Gargalha de mim esse mês. Em dezembro eu chovo o mês inteiro.
Esse foi um ano de encontros e desencontros e reencontros e desencontros outra vez. Despedi-me do que jurei ser eterno e acolhi aqueles que haviam partido outrora. Chorar de rir e sorrir de tristeza. Contradição, paradoxo, incongruência...
Dois mil e quatorze motivos para te odiar. Te culpo, erroneamente, pela minha incoragem. Incoragem até de assumir minha covardia. Em que ponto eu me perdi de mim?
O meu castelo descobri ser de areia quando, na segunda ou terceira onda furiosa, deixou de ser uno e fez-se novamente pequenos grãos da areia mais clara dessa praia. E das flores que eu e você cultivamos só sobraram o pó. Minhas águas salgadas já não florescem nós dois.
Dois mil e quatorze, que o próximo ano seja seu julho em novembro e que dois mil e quinze seja quinze assim como fomos um dia.
Minha solidão dança com meu nada uma valsa funesta no meu peito. Não posso continuar...

sábado, 20 de dezembro de 2014

Tenho andado com os olhos pesados de quem não dormiu de noite. Olhos de quem carrega mais do que pode e leva a vida nas costas. Esses meus olhos que já foram acusados de serem os olhos de Capitu. Esses meus olhos que foram alvo das discussões mais tolas sobre suas cores e suas formas. Os meus olhos que antes, incessantemente, insistiam em fugir dos seus. Os meus olhos pesados. Esses meus olhos que eu tanto amei um dia, agora não amo mais.