2013; decidi começar pelo fim. Em 2013 escrevi uma carta
sorrindo para a nova eu de 2014. Nova eu - não chega a ser hilário esse meu
cinismo? Escrevi a carta porque apostei tudo em 2014, achei que seria meu ano.
Sentia isso. Ok, alguém me mandou as vibrações erradas. Queria deixar meu muito
obrigada a quem quis me sacanear assim me fazendo sentir o que não era verdade.
Valeu mesmo. Enfim, perdi a tal carta,
mas me perdi também. Faz sentido.
É o ultimo dia do ano.
Eu ia escrever sobre dois mil e quatorze, mas acontece que:
Nada. Olho para o papel e me esforço para tentar achar palavras que caibam,
minimamente, no meu dois mil e quatorze. Nada! O nada é um grande filho da
puta! Cabe tanta coisa em um simples nada que qualquer coisa, ainda que enorme,
se torna pouco, ou melhor, nada. Um nada cheio de tudo. Olho para trás e vejo,
em cada pequena vírgula desse meu ano, um nada cheio de tudo.
Acho que deveria ter feito uma lista... Nunca gostei de listas, nos limitam. A
carta para dois mil e quatorze era, inicialmente, uma lista. Mas como eu
poderia dizer das cores se fosse só uma lista, como a lista de compras pregada
na minha geladeira? Ah, as cores... Na carta pedi para que em 2014 eu fosse
colorida. Meu ano foi cheio de olheiras roxas (de noites mal dormidas) e
sorrisos amarelos. Vale colorir assim?
É o ultimo dia do ano... Ainda?
Mudança. A primeira palavra que me vem à cabeça. Talvez por
estarmos nessa época do ano... Por que insistimos em querer mudar nessa época?
O ano novo sopra o vento da esperança nas nossas faces, bagunça o nossos cabelos
e traz um suspiro de vida a quem já se desfalece a essa altura. Mudança.
Ásperas mudanças. Sorrio de canto porque
mudar é triste. Mudar é escolher, abdicar, ponderar, repensar, abandonar,
livrar-se. Mas como posso chorar diante da liberdade? Prefiro sorrir. Triste felicidade (dei de ombros - Meu Deus,
como meus ombros pesam!). Sua expectativa esta me causando dores nas costas. Por
que as depositou tão pesadamente em mim? Não posso bater as asas que você me
acusou de ter assim. Fada? Não, passarinho.
Mas voltei a acreditar nelas, nas madrinhas em especial. E nos príncipes
azuis da meia noite em cavalos bran...Hum... Negros! E nesses seus olhos cor de
tempestade e formato de calmaria.
Dois mil e quatorze, existem exatamente dois mil e quatorze motivos para você
ser o ano que eu não esperei que você fosse. Nesse sem-fim de motivos, esbarro:
infinitas versões de uma vida que eu não vivi. Estaciono. O nada me pertence
outra vez. Afaga-me o peito e jura-me amor eterno. Quem disse que o nada não
pode ser companhia? Estou cheia de nada ou meu nada está cheio de tudo? O nada me
sorri uma vez por mês, pelo menos, e escova meus cabelos em dezembro. Acaricia-me
em dezembro. Gargalha de mim esse mês. Em dezembro eu chovo o mês inteiro.
Esse foi um ano de encontros e desencontros e reencontros e desencontros outra
vez. Despedi-me do que jurei ser eterno e acolhi aqueles que haviam partido
outrora. Chorar de rir e sorrir de tristeza. Contradição, paradoxo,
incongruência...
Dois mil e quatorze motivos para te odiar. Te culpo, erroneamente,
pela minha incoragem. Incoragem até de assumir minha covardia. Em que ponto eu
me perdi de mim?
O meu castelo descobri ser de areia quando, na segunda ou
terceira onda furiosa, deixou de ser uno e fez-se novamente pequenos grãos da
areia mais clara dessa praia. E das flores que eu e você cultivamos só sobraram
o pó. Minhas águas salgadas já não florescem nós dois.
Dois mil e quatorze, que o próximo ano seja seu julho em novembro e que dois mil e quinze seja quinze assim como fomos um dia.
Minha solidão dança com meu nada uma valsa funesta no meu peito. Não posso
continuar...